O Globo, Sábado, 22 de Agosto de 2009. (Página 21)
Carla Rocha
Caso envolvendo caloura de direito mobiliza estudantes, que vão se reunir na segunda-feira para pedir providências à reitoria
A história de um trote violento e machista está mobilizando professores e alunos na Universidade Federal Fluminense (UFF). Por ser considerada bonita, enquanto outras eram "barangas", uma caloura do curso de direito foi levada, na última quinta-feira, para uma sala onde deveria fazer sexo oral em cerca de oito veteranos e, assim, se livrar da obrigação de recolher nas ruas, como é praxe, a cota de R$250,00 exigida dos novatos nos primeiros dias de aula. A Pró-Reitoria de Assuntos Acadêmicos da UFF vai decidir, na segunda-feira, que providências tomará sobre o caso, já que a vítima - que conseguiu escapar do assédio, mas ficou muito abalada emocionalmente - não formalizou a queixa, temendo passar por mais humilhações e constrangimentos.
O caso foi revelado ontem pela coluna de Ancelmo Gois no GLOBO. Um parente da vítima disse que ela ligou chorando ainda dentro da universidade.
- Ela disse ter reparado que as calouras mais bonitas eram levadas para um lugar diferente, onde estavam cerca de oito veteranos. Um deles, mais forte, ficou na porta para impedi-la de sair. Com palavras chulas, disseram que ela tinha duas opções: fazer sexo oral neles e ser promovida à condição de veterana ou beijá-los na boca. Nesse caso, teria apenas desconto na cota de R$250,00 que tinha que pedir na rua.. Ela respondeu que não queria brincar mais. Aí, jogaram farinha e água no corpo dela - contou. - O que me causa mais indignação é que estudantes de direito deveriam zelar pelo cumprimento das leis e pela ética.
O pró-reitor adjunto de Assuntos Acadêmicos da UFF, Renato Crespo, disse que tomou conhecimento do caso pela imprensa e aguarda a denúncia ser formalizada para tomar providências. Segundo ele, esse tipo de trote é proibido há muitos anos. A UFF mantém um programa chamado Trote Cultural, em que os alunos são estimulados a promover brincadeiras em benefício de causas sociais, como recolhimento de alimentos não perecíveis.
- Vamos analisar se é possívell investigar na hipótese de a aluna não querer aparecer. Na segunda, decidiremos isso - disse Crespo, acrescentando que há tempos não ocorriam trotes violentos no campus.
Um dos diretores do Centro Acadêmico de Direito, Gabriel Barbosa, afirmou, porém, que há casos muito graves ainda ocorrendo, como brincadeiras racistas e homofóbicas. Ele próprio conta que, durante seu trote, em 2007, a polícia foi chamada por moradores da Praia de Icaraí, em Niterói.
- Da janela, elas viram a gente tendo que comer areia e sofrendo agressões. Aí chamaram a polícia - disse, denunciando que há uma associação atlética que, a pretexto de se engajar no Trote Cultural, recebe apoio da reitoria e acaba organizando eventos violentos. - Fazem piadas racistas. Obrigam os calouros a gritar que a UFF é caveirão ou a cantar músicas racistas, dizendo que a UFF é branca e a Uerj é Congo, por causa das cotas raciais. É uma parada violenta, que nos envergonha.
Na segunda-feira, os alunos vão se reunir para decidir sobre o assunto. Eles pretendem cobrar da reitoria da UFF uma posição firme contra o trote violento e também uma investigação sobre o caso.
Carla Rocha
Caso envolvendo caloura de direito mobiliza estudantes, que vão se reunir na segunda-feira para pedir providências à reitoria
A história de um trote violento e machista está mobilizando professores e alunos na Universidade Federal Fluminense (UFF). Por ser considerada bonita, enquanto outras eram "barangas", uma caloura do curso de direito foi levada, na última quinta-feira, para uma sala onde deveria fazer sexo oral em cerca de oito veteranos e, assim, se livrar da obrigação de recolher nas ruas, como é praxe, a cota de R$250,00 exigida dos novatos nos primeiros dias de aula. A Pró-Reitoria de Assuntos Acadêmicos da UFF vai decidir, na segunda-feira, que providências tomará sobre o caso, já que a vítima - que conseguiu escapar do assédio, mas ficou muito abalada emocionalmente - não formalizou a queixa, temendo passar por mais humilhações e constrangimentos.
O caso foi revelado ontem pela coluna de Ancelmo Gois no GLOBO. Um parente da vítima disse que ela ligou chorando ainda dentro da universidade.
- Ela disse ter reparado que as calouras mais bonitas eram levadas para um lugar diferente, onde estavam cerca de oito veteranos. Um deles, mais forte, ficou na porta para impedi-la de sair. Com palavras chulas, disseram que ela tinha duas opções: fazer sexo oral neles e ser promovida à condição de veterana ou beijá-los na boca. Nesse caso, teria apenas desconto na cota de R$250,00 que tinha que pedir na rua.. Ela respondeu que não queria brincar mais. Aí, jogaram farinha e água no corpo dela - contou. - O que me causa mais indignação é que estudantes de direito deveriam zelar pelo cumprimento das leis e pela ética.
O pró-reitor adjunto de Assuntos Acadêmicos da UFF, Renato Crespo, disse que tomou conhecimento do caso pela imprensa e aguarda a denúncia ser formalizada para tomar providências. Segundo ele, esse tipo de trote é proibido há muitos anos. A UFF mantém um programa chamado Trote Cultural, em que os alunos são estimulados a promover brincadeiras em benefício de causas sociais, como recolhimento de alimentos não perecíveis.
- Vamos analisar se é possívell investigar na hipótese de a aluna não querer aparecer. Na segunda, decidiremos isso - disse Crespo, acrescentando que há tempos não ocorriam trotes violentos no campus.
Um dos diretores do Centro Acadêmico de Direito, Gabriel Barbosa, afirmou, porém, que há casos muito graves ainda ocorrendo, como brincadeiras racistas e homofóbicas. Ele próprio conta que, durante seu trote, em 2007, a polícia foi chamada por moradores da Praia de Icaraí, em Niterói.
- Da janela, elas viram a gente tendo que comer areia e sofrendo agressões. Aí chamaram a polícia - disse, denunciando que há uma associação atlética que, a pretexto de se engajar no Trote Cultural, recebe apoio da reitoria e acaba organizando eventos violentos. - Fazem piadas racistas. Obrigam os calouros a gritar que a UFF é caveirão ou a cantar músicas racistas, dizendo que a UFF é branca e a Uerj é Congo, por causa das cotas raciais. É uma parada violenta, que nos envergonha.
Na segunda-feira, os alunos vão se reunir para decidir sobre o assunto. Eles pretendem cobrar da reitoria da UFF uma posição firme contra o trote violento e também uma investigação sobre o caso.
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